COREN-RJ: A FÊNIX QUE RENASCE DAS CINZAS


15.05.2018

Os 10 anos da intervenção no Coren-RJ se completam neste dia 15 de maio de 2018. Trata-se de uma data que a categoria e toda a população fluminense deveria comemorar, pelo bem do exercício pleno da enfermagem e pela garantia de segurança no cuidado com a vida humana oferecido aos pacientes por estes profissionais. A história de 10 anos da intervenção que salvou esta entidade, que tem 45 de idade, se confunde com a do próprio Rio de Janeiro. Mas, inversamente à ruína que hoje assistimos estupefatos do nosso estado e cidade, a autarquia vem conseguindo se reconstruir após sua dilapidação atribuída a décadas de malversação, desordem e obscuras transações, que sugaram os titulares e impediram estes tivessem voz, através do voto.

De 1988 a 2008, O Coren-RJ viveu o caos. Roubado e espoliado como o Rio de Janeiro, com direito até a presidente preso, tal qual assistimos hoje ao governador e equipe atrás das grades. E, em setembro de 1999, criminosos fazem duas vítimas fatais: o casal Edma e Marcos Valadão, brutalmente assassinados, dentro de um carro, numa rua da Zona Norte carioca. Ativistas do movimento sindical e ligados às entidades de classe, ambos foram executados por denunciar as irregularidades praticadas pelos gestores do Cofen/Coren-RJ. Sim, Edma e Marcos Valadão foram eliminados, tal qual a vereadora recentemente morta, numa via pública dentro de um automóvel, abatida a tiros. Ela também denunciava bandidos e militava pelos direitos humanos. Uma triste história que se repetiu. Até hoje, não foram presos os assassinos de Edma e Marcos. Nem os de Marielle Franco.

Mas, voltemos à evolução da nossa autarquia. Naquela época, o setor de atendimento – que ainda hoje é criticado – era absolutamente primitivo. As subseções, desestruturadas. A própria sede dava vergonha, tamanha bagunça e sujeira. As anuidades custavam caro e o serviço não retornava aos titulares. Documentos se perdiam, não havia controle de fiscalização, processos éticos e jurídicos. A inadimplência era gigantesca, pois não havia qualquer credibilidade dos gestores. Um ambiente em estado terminal, arruinado, que usurpava o direito de quem pagava a anuidade com seu suor e não era defendido no serviço. Simplesmente porque a arrecadação servia apenas para a manutenção dos luxos de marajás criminosos que se adonaram da autarquia.

Democracia? Não existia. Os editais para divulgação das chapas eram meros golpes dissimulados em falsa transparência, que boicotava qualquer iniciativa de grupos novos tentarem gerir, oxigenar, trazer sangue novo ao Coren-RJ. E a turma bandida tornava a voltar.

A gente conhece bem isso. Afinal, assistimos atualmente estas cenas nauseantes em nosso País.

Mas, para o Coren-RJ, apareceu a luz no fim do túnel que expôs a sujeira e impôs mudanças: a Junta Interventora.

A SAGA DAS SETE MULHERES DA ENFERMAGEM

Em 2008, foi instaurada uma Junta Interventora pelo Cofen na autarquia fluminense. O objetivo era trazer de volta a transparência administrativa, auditar e sanear as finanças, regularizar as escrituras e modernizar as estruturas dos imóveis. Também foram criados protocolos para que referendassem o saber técnico-científico da enfermagem e, assim, garantissem a plena atividade fim da Entidade: a fiscalização e a ética.

Sete históricas ativistas das causas da enfermagem foram conclamadas a arregaçar as mangas e se dedicar a consertar o que parecia irreparável. Eram elas as enfermeiras Rejane de Almeida (que presidiu o Coren-Rj nos 16 meses a Junta da Intervenção), Ana Lúcia Telles Fonseca (atual presidente da autarquia), Nádia Mattos Ramalho (atual vice-presidente do Cofen), Gloria Maria de Carvalho (ex-presidente do Sindicato dos Enfermeiros e coordenadora do Capacita Coren) e Denise Sanches (diretora do Sindenf-RJ), e as técnicas de enfermagem Agostinha Gonçalves de Oliveira e Georgina Rodrigues de Freitas (ambas atualmente aposentadas). A primeira medida promovida pela Junta foi reduzir em 31% o valor das anuidades e das multas – graças à forte e exaustiva articulação junto ao Cofen. E começa a saga das Sete Mulheres da enfermagem fluminense, no hercúleo trabalho de reconstrução.

A Casa continua a se arrumar em 2009, com a Extensão da Junta Interventora. Assumiram a presidência e vice-presidência o enfermeiro Pedro de Jesus Silva e a professora Maria Therezinha Nóbrega, que administraram a autarquia até o final de 2011, por indicação do presidente do Cofen à época, Dr. Manoel Neri. Pedro e Therezinha, ambos conhecidos militantes das lutas da categoria e ex-presidentes do sindicato dos enfermeiros, contaram com a colaboração de um time competente na administração. E foi formado o plenário da Extensão da Junta Interventora, onde se discutiam e votavam-se as questões e atribuições do Coren-RJ, com foco na sua reconstrução e transparência.

Desta composição, fizeram parte algumas das mulheres da Junta Interventora, exceto a Enfermeira Rejane, que se elegeu deputada estadual em 2011. Outras figuras importantes da história de luta da enfermagem fluminense se uniram na tarefa: de ícones da academia e da assistência, de doutores e mestres a assistentes e técnicos; todos os quadros atuaram com garra. Um concurso público para a composição dos funcionários administrativos foi um grande passo para avançar no que se pretendia. E o Coren-RJ conseguiu braços para restabelecer a ordem.

Até 2013, a preocupação era administrativa de fato: desembaraçar os nós do atendimento, dos processos resultantes das fiscalizações e encaminhamentos jurídicos. Com retorno da credibilidade da autarquia junto aos seus titulares e investimentos no diálogo com os futuros profissionais, as contas saem do vermelho. E, enfim, começaram as obras de modernização das estruturas prediais e de tecnológica. O primeiro setor a ser contemplado com a reforma foi o terceiro andar da sede, que passou a ser o Setor do Atendimento. O Coren-RJ começava a sair da UTI e, em 2011, realizou o I Congresso Fluminense de Enfermagem na Atenção Primária À Saúde – CoFEnAPS, coordenado pela enfermeira Nádia Ramalho, à época 1ª Secretária do Coren-RJ.

De 2013 a 2015, Pedro de Jesus foi eleito presidente da autarquia, contando com sua vice Therezinha e o plenário, com 70% dos votos válidos, para dar continuidade ao projeto de reconstrução. As obras seguiam em frente, e, desta vez, foram reformados os 4º e 5º andares, além de 10 subseções. Modernizou-se a tecnologia da informática. Câmaras Técnicas, projetos de atualização da ciência, como Capacita Coren, foram implementados. As comissões institucionais de ética se multiplicavam pelo estado, e não apenas em unidades de saúde, mas em qualquer empresa que tivesse a enfermagem entre seus colaboradores. Foi dado o primeiro passo em direção à parceria com a Secretaria de Estado de Educação e com as coordenações das faculdades de enfermagem, com o objetivo de aprimorar a formação profissional. O Coren-Móvel prestou serviço itinerante em vários municípios que não contam com subseções. E, por fim, um mutirão de funcionários, capitaneados pelos conselheiros, conseguiram zerar as pendências de entrega das cédulas e de outras documentações represadas.

O Coren-RJ, enfim, estava caminhando para a ordem e pode, inclusive, realizar quatro Seminários de Ética (coordenados por Ana Lúcia Telles) e o Congresso Fluminense de Enfermagem (Confluenf), cuja coordenação ficou a cargo da conselheira Profª. Sidênia Alves Sidrião de Alencar Mendes.

Após a gestão Pedro de Jesus, a enfermeira Profª. Drª. Maria Antonieta Rúbio Tyrrel assumiu a presidência, em eleição ocorrida em 2015, com posse em 2016. Com o compromisso de dar continuidade aos projetos de avanços da autarquia, a Drª Tyrrel esteve à frente da finalização de um grande marco para o Coren-RJ: o Centro de Estudos da Enfermagem Fluminense, o CECENF, na Glória. Como profissional que valoriza o conhecimento, a mestra deixou este legado de celeiro do saber para a categoria.

Com a nova gestão (2018-2020, tendo a enfermeira Ana Lúcia Telles Fonseca como presidente e o plenário eleito em outubro passado e empossado em janeiro deste ano, o Coren-RJ aos poucos e com muita luta continua trabalhando para conquistar a excelência na prestação de serviços aos seus titulares. Os conselheiros conhecem as áreas críticas e operam para solucionar os problemas herdados desde o desmonte da autarquia – ainda que um tanto atenuadas pelas gestões democráticas, mas ainda com sequelas dos tempos obscuros.

O Rio de Janeiro poderia ter avançado ao invés de regredir por conta dos crimes cometidos por corruptos. A grande diferença aqui no Coren-RJ é a honra e a imensa disposição para sanear, evoluir e escrever na história, com uma gestão de triunfo, até ser reconhecido como o Conselho dos sonhos de toda a classe da enfermagem fluminense.

Entendemos as críticas, mas pedimos humildemente aos titulares que tenham confiança nesta administração. Creiam, se há ainda problemas que incomodam (e a nós também), não é por desleixo ou má gestão, e menos ainda por corrupção. Este Plenário tem um passado sem máculas e não permitiremos jamais manchar a nossa reputação histórica com traição, inércia e roubos.

Afinal, somos todos da enfermagem, como vocês, colegas e donos legítimos deste Casa. Pois nós, gestores, passaremos; o Coren-RJ não. Juntos, com toda a classe, jamais permitiremos a volta dos crimes que, por pouco, não destruíram a maior conquista da enfermagem fluminense. Em junho comemoram-se os 45 anos da criação do sistema Cofen/Corens, um marco que tirou a enfermagem do jugo da hierarquia equivocada, que colocava a enfermagem como subalterna de outros profissionais da saúde, sem ter a capacidade intelectual-técnico-científica reconhecida pela sociedade.

A luta é permanente. A união, imprescindível. Imitemos a garra das Sete Mulheres, o destemor de Edma e Marcos Valadão. E, sim, conquistaremos a vitória da valorização, reconhecimento e dignidade.

Na foto das Sete Mulheres, da esquerda para a direita: Agostinha Gonçalves de Oliveira, Denise Sanches,Georgina Rodrigues de Freitas Ana Lúcia Telles Fonseca, Rejane de Almeida, Nádia Mattos Ramalho e Gloria Maria de Carvalho .

 

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