O Globo/ Extra – No Dia do Enfermeiro, profissionais falam dos desafios no combate ao coronavírus (Glauber Amancio)


18.01.2021

No Dia do Enfermeiro, profissionais falam dos desafios no combate ao coronavírus

Medos, afastamento da família e falta de EPIs fazem parte da nova rotina
O enfermeiro Glauber criou um link na internet e está pedindo doações Foto: Arquivo pessoal
O enfermeiro Glauber criou um link na internet e está pedindo doações Foto: Arquivo pessoal

 

RIO – Todo dia é dia de dar parabéns às pessoas que atuam na área de saúde. Nesta terça-feira, especialmente, aos enfermeiros, que celebram seu dia nesta terça-feira. Na linha de frente no combate do novo coronavírus, eles, assim como os médicos e tantos outros profissionais, convivem diariamente com o medo, a morte, a ansiedade. Estatísticas do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) mostram que somente no Estado do Rio já foram registrados 24 óbitos nesse grupo, e mais de mil estão afastados de suas funções por terem sido diagnosticados com a doença. Em todo o país, já são mais de 11 mil casos entre suspeitos e confirmados, também segundo o Cofen. Um boletim divulgado recentemente pelo órgão informou que 75 enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem já morreram no Brasil devido à Covid-19, um registro maior do que a soma dos casos vistos entre profissionais da área na Itália (35) e na Espanha (quatro). Então, para tentar celebrar de alguma forma este Dia do Enfermeiro, conversamos com alguns sobre os desafios de exercer a atividade na pandemia.

A enfermeira Graziele trabalha com hemodiálise desde 2001 Foto: Arquivo pessoal
A enfermeira Graziele trabalha com hemodiálise desde 2001 Foto: Arquivo pessoal

Aos 37 anos, Graziele Dias Soares trabalha com hemodiálise desde 2001. Há um ano é a chefe da enfermagem da Clínica de Doenças Renais de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde trabalha há uma década. Apesar do orgulho da profissão, ela confessa que está preocupada com o risco de contaminação pela Covid-19.

— Todos os profissionais de saúde estão muito abalados. Cada dia que passa, vem a notícia de algum colega que se contaminou com o novo coronavírus ou de alguém que morreu. Mesmo tendo todos os equipamentos de proteção individual e com todos os cuidados redobrados, minha maior angústia é voltar para casa, com medo de contaminar a minha família. Mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante saber que atuamos para salvar a vida das pessoas todos os dias — destaca a profissional, que mora em Andrade de Araújo, em Nova Iguaçu.

A enfermeira Graziele com o equipamento de proteção Foto: Arquivo pessoal
A enfermeira Graziele com o equipamento de proteção Foto: Arquivo pessoal

Moradora na Pavuna, no Rio, Michele Gustavo de Paula, de 41 anos, é enfermeira há 17. Atualmente, chefia a equipe de enfermagem da Clínica de Doenças Renais de São João de Meriti, na Baixada. A apreensão é sua companhia constante:

— Temos um inimigo invisível. E a nossa profissão é lutar diariamente contra ele (o vírus) e para não se contaminar. Sobretudo, para não passar a doença para a família.

Vídeo do Cofen lembra que são 2,2 milhões de enfermeiros, com mais de 100 especialidades, que perderam colegas na pandemia e têm sido aplaudidos por sua atuação. Categoria reivindica regulamentação da jornada de trabalho e fim das condições precárias de trabalho. Divulgação
Vídeo do Cofen lembra que são 2,2 milhões de enfermeiros, com mais de 100 especialidades, que perderam colegas na pandemia e têm sido aplaudidos por sua atuação. Categoria reivindica regulamentação da jornada de trabalho e fim das condições precárias de trabalho. Divulgação

 

Os equipamentos de proteção individual e os protocolos de segurança são importantes instrumentos para evitar a contaminação. Porém, não afastam o medo e a preocupação.

— Minha filha de 3 anos já sabe que, quando chego em casa, não posso abraçá-la nem beijá-la, mas é para o bem dela e de todos os pacientes que atendemos. Tomamos todos os cuidados e vamos juntos vencer essa doença. Por isso que peço a quem pode ficar em casa que fique, deixe que a gente corra os riscos para garantir a vida de todos — recomenda Michele.

A enfermeira Michele com a filha de 3 anos Foto: Arquivo pessoal
A enfermeira Michele com a filha de 3 anos Foto: Arquivo pessoal

Vaquinha online

O enfermeiro Glauber Amancio, do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ), perdeu uma prima para a Covid-19. Ela trabalhava como técnica de enfermagem no Hospital Infantil de Duque de Caxias, na Baixada. Pouco antes, ele havia ganhado da parente equipamentos de proteção individual, os chamados EPIs, que segundo ele tem feito muita falta no combate à doença.

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Motivado pela morte da prima, Glauber deu início a uma campanha na internet para obter EPIs e distribuir aos colegas. A vaquinha virtual (em http://vaka.me/1023354) começou no dia 28 de abril e já arrecadou R$ 6.200. Até agora, já foram comprados cem kits (composto por touca ou gorro, óculos, máscara N95, protetor facial de acetato, capote, luvas e proteção para os pés). A meta é obter R$ 50 mil. Mais do que o dinheiro, Glauber gostaria de que algum artista ou empresa fizesse uma doação das máscaras.

— Quero doação. Quero material, e não dinheiro. Fiz contato com mais de mil artistas pedindo ajuda com a vaquinha, em suas lives, mas não obtive resposta alguma — lamenta Glauber, de 33 anos, que trabalha nos hospitais Maternidade Carmela Dutra e Maternidade Fernando Magalhães, no Rio de Janeiro, e no Hospital Municipal Hugo Miranda, em Paraty.

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O Dia Internacional da Enfermagem e do Enfermeiro é celebrado desde 1965. Mas a data foi estabelecida somente em 1974, por decisão do Conselho Internacional de Enfermagem. O dia 12 de maio foi escolhido em homenagem a Florence Nightingale, inglesa que é considerada a “mãe” da enfermagem moderna. No Brasil, a data marca a abertura da Semana da Enfermagem, que termina em 20 de maio, dia escolhido para homenagear Ana Neri, pioneira da enfermagem no país. No ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou 2020 como Ano Internacional da Enfermagem.

Em vez de festa, protesto

Era para ser um dia de comemoração, mas o Sindicato dos Enfermeiros decidiu pelo protesto, por achar que a categoria não tem o que festejar na data dedicada a ela. A manifestação, marcada para as 17h de hoje, em frente ao Hospital Salgado Filho, no Méier, na Zona Norte do Rio, pretende dar visibilidade aos problemas enfrentados por esses profissionais.

A enfermeira Michele chefia a equipe de enfermagem da Clínica de Doenças Renais de São João de Meriti, na Baixada Foto: Arquivo pessoal
A enfermeira Michele chefia a equipe de enfermagem da Clínica de Doenças Renais de São João de Meriti, na Baixada Foto: Arquivo pessoal

A falta de equipamentos de proteção individual , os chamados EPIs, é a principal queixa no momento. Segundo o sindicato, ainda há carência de máscaras e capotes em muitas unidades. Em algumas, o material até existe, mas é inadequado, segundo Mônica Armada, presidente do sindicato.

— O enfermeiro é a espinha dorsal do atendimento e é o profissional que tem adoecido e morrido por estar entrando numa guerra sem arma alguma — compara Mônica.

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Para evitar aglomeração, cerca de 20 pessoas somente devem participar presencialmente do ato hoje à tarde, mantendo distanciamento seguro. No Estado do Rio, a categoria é composta por 60 mil profissionais. Se computados os técnicos de enfermagem, esse número ultrapassa 200 mil.

EXTRA

https://extra.globo.com/noticias/rio/no-dia-do-enfermeiro-profissionais-falam-dos-desafios-no-combate-ao-coronavirus-24422055.html

 

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